segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Aprendizagem do aluno adulto: elementos para a prática docente no ensino superior

O texto abaixo, escrito em 2010 para o encontro de professrores intitulado "Diálogos Pedagógicos"  pode auxiliar na reflexão sobre como o adulto aprende e contribuir para nossa prática no ensino superior.

Gostaria de receber sugestões de links, obras, sites, para aprofundar este tema.

Boa leitura!

Profª Msc. Inge Suhr

O termo aprender vem do latim aprehendere (agarrar, apropriar-se de algo) e designa um processo contínuo e dinâmico que ocorre durante toda a vida, resultado da interação entre o indivíduo e o meio sociocultural, ou seja, para que o ser humano aprenda é necessário que ele interaja com os outros.

Na atualidade algumas compreensões parciais e truncadas perpassam o modo como as pessoas encaram a aprendizagem. A primeira delas tem origem na concepção inatista, segundo qual a capacidade de desenvolvimento e aprendizagem do ser humano é uma característica inata e, por isso mesmo, o único responsável pelo seu sucesso ou fracasso é o próprio aprendiz. A segunda tem origem no behaviorismo ou comportamentalismo, que considera o homem como um ser completamente plástico, moldado pelo meio em que vive. O conhecimento viria do mundo exterior e o sujeito o recebe passivamente. Defendemos que nenhuma dessas concepções corresponde ao que realmente ocorre quando aprendemos.

Para a psicologia sócio-histórica, que tem em Vygotsky seu principal representante, os processos psicológicos elementares estão realmente presentes nas crianças já no momento de seu nascimento, mas os processos psicológicos superiores não são inatos, se originam nas relações entre indivíduos humanos e se desenvolvem ao longo do processo de internalização de formas culturais de comportamento. Para esta linha o meio ambiente precisa desafiar, exigir, estimular o intelecto, de modo a permitir que o sujeito alcance aos níveis mais elevados de raciocínio. Concordamos com a  psicologia sócio-histórica e por isso mesmo defendemos que também o adulto pode continuar desenvolvendo sua inteligência, criatividade, e aprender continuamente, desde que o ambiente (no nosso caso o ensino superior) favoreça.

Nesse sentido, para aprender é preciso estar motivado e os estudos da Andragogia mostram que o aluno adulto se motiva mais quando consegue estabelecer relações entre os conteúdos e a solução de problemas reais ou do seu dia-a-dia. Além disso, quando o objeto de estudo é apresentado num nível que o aluno consegue compreender, mas sem ser simplório, a motivação para aprender também se eleva. Outro aspecto determinante para o nível de motivação dos estudantes é a motivação do docente para estar naquela turma lecionando aquele conteúdo.

A afetividade também é um aspecto que favorece ou dificulta a aprendizagem do adulto e tem sido desconsiderada no ensino superior. Embora os adultos tenham maior controle sobre seus afetos e emoções, relações interpessoais respeitosas, acolhedoras favorecem a aprendizagem. Nesse sentido vale ressaltar que o adulto deseja (mesmo que nem sempre aja assim) ser tratado como adulto, autônomo, responsável, e jamais de maneira infantilizada.

A aprendizagem do adulto também é potencializada quando ele compreende o que está fazendo, porque está fazendo, como e onde vai utilizar aquele conhecimento. Ele precisa participar ativamente do processo ensino-aprendizagem estabelecendo relações, fazendo sínteses, questionando, discordando, se posicionando... Por isso, ensinar no ensino superior não é apenas transmitir o conteúdo, mas sim, favorecer o desenvolvimento dessas habilidades de pensamento e da autopercepção do aluno em relação à sua própria aprendizagem (metacognição).

Para uma aprendizagem significativa (e não mera memorização antes da prova) o processo de pensamento do adulto deve ser orientado a percorrer o processo de análise-síntese, ou seja, partindo de uma problematização ou de uma contextualização, levar à análise das partes componentes da situação/conteúdo e posteriormente, sua reconstrução, agora ressignificada, compreendida de maneira mais ampliada.

Vale lembrar também que no decorrer da vida, dependendo das experiências que vivenciaram, os adultos desenvolveram mais o canal visual, auditivo ou sinestésico e se as aulas levarem em conta diversidades de estímulos que atinjam a estes três canais, a chance de uma aprendizagem significativa e duradoura é muito maior.